Diante dos desafios trazidos pelo mundo moderno, o discernimento vocacional se torna, muitas vezes, uma tarefa árdua, complexa e até mesmo confusa devido ao fato das pessoas terem que decidir rapidamente o que vão ser no futuro. Como sabemos, assim funciona a nossa sociedade atual: tudo tem que ser instantâneo, sem tempo para a reflexão e para o discernimento.

A vocação é demasiadamente séria, ela tem a ver com uma vida a ser vivida, e não deve ser decidida da noite para o dia. Deste modo, a caminhada vocacional é desafiada a seguir o exemplo do caminho percorrido por um simples rio.

O caminho percorrido pelo rio nos ajuda a perceber que em seu percurso ele tem que seguir o seu destino totalmente sozinho. Porém, este estar só não traz para nós um caráter individualista, mas o de querer nos ensinar que por si mesmo o rio tem que fazer o seu trajeto, a sua história.

Em seu caminho, o rio não necessita ser empurrado, ele pára um pouquinho no remanso, apressa-se nas corredeiras, desliza-se de mansinho nas baixadas e precipita-se nas cascatas. Mas, no meio de todos estes obstáculos, ele vai seguindo o seu caminho.

O rio sabe que seu caminho não é em vão porque nele há um ponto de chegada. Sabe que seu destino é para frente e, por isso, não pode recuar. Seu percurso é ir para frente vitorioso, juntando-se a outros rios ele chega ao seu ponto de realização, chega ao mar.

Como é o percurso do rio, assim deve ser o percurso da nossa vocação. Que tudo corra lentamente, não se pode apressar e nem se represar. Em nosso percurso vocacional, ou melhor, em nosso discernimento vocacional não pode haver medo da calmaria e nem se pode evitar as cachoeiras. Correr do jeito do rio significa, para os vocacionados, correr na liberdade tendo como meta o ponto de chegada.

Sair fora deste percurso de discernimento vocacional significa em nossa vida seguir um caminho obscuro e sem rumo. O caminho de um rio expressa muito bem como deve ser o nosso percurso de discernimento vocacional. Com certeza o nosso caminho vocacional deve ser cheio de buscas e desafios, pois como nos dizeres de Sócrates: “uma vida sem busca não é digna de ser vivida” (REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia, v.1) e assim deve ser constantemente a nossa vida em prol das nossas realizações.

Assim sendo, cabe mais uma vez aqui afirmar que a vocação é como um rio. Não devemos apressá-la. Ao contemplarmos o ciclo natural percebemos que a natureza não tem pressa. Assim é a árvore, assim são os animais. Tudo o que é apressado perde o sabor. Tudo tem um ritmo e seu tempo. E então por que apressar a vocação da gente?

Que em nosso discernimento vocacional sejamos como um rio. Livre dos empurrões dos outros e dos nossos próprios. Livre das poluições alheias e das nossas. Que sejamos autênticos rios: originais, límpidos e livres. Rio que escolheu seu próprio caminho e sabe que tem um tempo de chegada. Sabe que o tempo não interessa.

Portanto, que na caminhada da nossa vocação aprendamos a dizer uns para os outros: não apresse o rio que está dentro de cada um de nós, ele anda sozinho. Não apresse a nossa vocação, ela anda sozinha. Deixa-a seguir seu caminho normal, pois o que interessa saber é que há um ponto de chegada e que lá se vai chegar. È bom viver do jeito do rio!



 Pe.André Magela Januário